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LINA É LINDA! Você a conhece?

Talvez você não seja um(a) expert em arquitetura ou em design e decoração de interiores. Mas, se gosta desses temas, é bem provável já ter ouvido falar do nome Lina Bo Bardi. A arquiteta ítalo-brasileira foi, e é até hoje, sem sombra de dúvidas, um dos grandes ícones do país nessas áreas de atuação. Lina deixou uma marca inconfundível em tudo o que idealizou e realizou, desde a arquitetura de grandes edifícios até a escolha por objetos inusitados para a decoração de espaços, passando pelo desenho de mobiliário, o design, a produção gráfica, a moda e a curadoria e produção de exposições. Em tudo o que fez, sua abordagem foi única e inspiradora, cheia de personalidade e de escolhas incomuns, o que a destacou de sua geração. Talvez por ser uma mulher, infelizmente, não obteve o reconhecimento justo por tantos feitos. Neste post queremos falar especialmente de seu papel como grande pesquisadora, difusora e defensora da produção artesanal brasileira. Lina acreditava que a cultura popular deveria ser a fonte de inspiração primária para a arquitetura, a arte e o design, e que esses deveriam ser acessíveis a todos e presentes no nosso dia a dia; tudo no que a Balaio – Garimpo Decor também acredita e defende.


 

Achillina Adriana Giuseppina di Enrico Bo Bardi nasceu em Roma, na Itália, em 1914. Através do pai, engenheiro, construtor e pintor, aprendeu a desenhar e pintar, atividade que passaram a praticar juntos desde os 10 anos de idade de Lina, que pintava a guache e aquarela. Estudou no Liceu Artístico de Roma, graduando-se em 1933. Em seguida, tornou-se uma das poucas mulheres a frequentar a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma. Aos 25 anos, em 1939, se formou arquiteta e iniciou sua trajetória de sucesso. Em 1940 Lina se mudou para Milão e associou-se ao arquiteto Carlo Pagani, com quem fundou o estúdio Bo e Pagani. No entanto, a Segunda Guerra Mundial trouxe desafios, incluindo o bombardeio de seu escritório em 1943.


1. Lina Bo, criança. Itália, década de 1910; 2. Desenho feito por Lina Bo Bardi com 10 anos. Roma, 26 de setembro de 1925; 3. Lina e Pietro Maria Bardi desembarcando em Congonhas. São Paulo, 26 de fevereiro de 1947. Imagens: reprodução da Internet, em www.institutobardi.org.br.

No mesmo ano, conheceu Pietro Maria Bardi, com quem se casou em 1946. Logo em seguida mudaram-se para o Brasil, onde começaram uma parceria profissional e pessoal significativa, que deixaria uma marca indelével na história do país, nos campos da arquitetura, cenografia, artes plásticas, desenho de mobiliário, no design gráfico e da cultura popular. Lina se apaixonou pelo cenário tropical e pelas possibilidades de um país em desenvolvimento. De imediato, a arquiteta se encantou e passou a estudar a cultura brasileira a partir de uma perspectiva antropológica e interessou-se particularmente pela convergência entre arte e tradição popular.


PRIMEIROS ANOS NO BRASIL

“Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi esse lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha ‘Pátria de Escolha’, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri, ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e as da fronteira.” (Lina Bo Bardi)

Recém-chegados ao Brasil, Lina e o marido foram atraídos pela natureza tropical do Rio de Janeiro, onde ficaram pelos primeiros meses. Porém, logo foram convidados pelo jornalista, empresário e político Assis Chateaubriand para fundar e dirigir o Museu de Arte de São Paulo (MASP), na cidade de São Paulo, para onde se mudaram.


Inaugurado em 1947, o MASP se propunha a ser mais que apenas um museu, o que encaixava muito bem com os perfis multifacetados de Lina e Pietro. Além da criação do museu em si, o casal também propôs o lançamento de uma revista, a Habitat, que se definia como a “Revista das Artes no Brasil”. Os Bardi também foram responsáveis pela fundação do Instituto de Arte Contemporânea (IAC) – também vinculado ao MASP, e cuja meta era ser uma escola de desenho industrial – iniciativa inédita no Brasil da época, visto que os primeiros cursos de design só iriam surgir no país na década de 1960. Bardi foi professora no IAC e também o dirigiu entre 1951 e 1953.


Paralelamente, Lina também fundou, em 1948, o Estúdio de Arte Palma, dedicado ao design de mobiliário moderno e industrial, junto com a fábrica Pau Brasil, que produzia o mobiliário criado pelo Estúdio. Além de tudo isso, teve ainda uma atuação como professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, no período entre 1955 e 1956.


1. Interior do Estúdio de Arte Palma, em São Paulo. Foto Peter Scheier; 2. Curso de Desenho Industrial do IAC. Foto Peter Scheier [Fonte: Biblioteca e Centro de Documentação do MASP]; 3. Lina no auditório da primeira sede do MASP; 4. Pietro Maria Bardi and Assis Chateaubriand; 5. Lina Bo Bardi em cadeira de balanço no Estúdio de Arte Palma. Imagens: reprodução da Internet, em www.institutobardi.org.br.

A ARQUITETURA DE LINA


Em 1951, os Bardi se naturalizaram brasileiros e se mudaram para sua nova residência, a Casa de Vidro. A Casa foi a primeira residência construída no bairro do Morumbi. Implantada em um dos pontos mais altos da região e cercada de uma densa vegetação de Mata Atlântica. A obra foi o primeiro projeto arquitetônico de Lina no Brasil e foi também, sem dúvida, um marco do estilo arquitetônico moderno que surgia no país, com seus vãos livres, pilotis e fachadas de vidro. O casal viveu até seus últimos dias na residência, que hoje abriga o Instituto Bardi.


Casa de Vidro e sua criadora. Imagens: reprodução da Internet., em www.institutobardi.org.br.

Apesar de não ter tido uma produção muito ampla, a atuação de Lina Bo Bardi como arquiteta no Brasil se destaca por suas obras impactantes, que trouxeram uma nova perspectiva para projetos de edificações desde então, por abarcarem conceitos de uma estética moderna e vanguardista, como o brutalismo e a transparência. Além das questões construtivas inovadoras em si, sua contribuição é também marcada por uma nova sensibilidade e preocupação para questões sociais e culturais em relação aos espaços, com uma abordagem humanista e de compromisso com a ocupação de áreas urbanas pela população, apresentando soluções inclusivas, que perduram como referências também sobre a função social da arquitetura até os dias de hoje.


Dois de seus principais projetos arquitetônicos são grandes exemplos da aplicação de todos esses conceitos: a nova sede do MASP, na Avenida Paulista, e o complexo do SESC-Pompéia, ambos na cidade de São Paulo.


MASP. Imagens: reprodução da Internet.

Os primeiros estudos para o Museu de Arte de São Paulo (MASP), foram feitos em 1957.  Sua ideia era criar um espaço ao mesmo tempo simples e monumental, uma perfeita representação de sua preocupação como arquiteta: aliar modernidade com a tradição da coletividade, da cultura popular em um único edifício. “Uma arquitetura simples, uma arquitetura que pudesse comunicar, de imediato, aquilo que no passado se chamou de monumental, isto é, o sentido ‘coletivo’ de Dignidade Cívica... Não procurei a beleza, e sim a liberdade. Os intelectuais não gostaram, mas o povo gostou”. Um enorme bloco horizontal, suspenso por pilares maciços, criando um grande vão aberto em seu plano térreo, destinado a ser utilizado como espaço público dinâmico e acolhedor.  Até hoje, o MASP é sinônimo de local de acolhida a manifestações populares, culturais, econômicas e políticas, como feiras de arte e artesanato, apresentações cênicas, discursos e comícios. Suas mostras permanentes e temporárias englobam tanto obras renomadas da arte erudita como exposições de manifestações da cultura e arte populares. Sem dúvida, um dos grandes ícones da arquitetura brasileira.


Bo Bardi também deixou sua marca no SESC Pompeia, um complexo esportivo-cultural que combina arquitetura industrial reutilizada com espaços abertos para atividades comunitárias. O jornal americano The New York Times classificou o SESC-Pompéia como uma das 25 obras arquitetônicas mais importantes do pós-guerra e o inglês The Guardian o incluiu entre os dez ‘melhores edifícios de concreto do mundo’. O desafio era criar um espaço que abrangesse áreas para práticas esportivas e culturais em um terreno relativamente pequeno e ocupado previamente por galpões de uma antiga fábrica de tambores, transformada posteriormente em uma indústria de geladeiras a querosene, que funcionou até 1960.


SESC-POMPÉIA. Imagens: reprodução da Internet.

Em 1976, Lina foi convidada para transformar o espaço, o que levou dez anos. Ao invés de derrubar os galpões, Lina resolveu preservar a memória dos edifícios e concebeu um projeto adaptando-os para uso como espaços culturais que incluem áreas de exposições, teatro, uma biblioteca, estúdios e um restaurante. A proposta acrescentou ainda três torres altas de concreto aparente, em estilo brutalista. Na primeira torre estão instaladas, academias, quadras e piscina; a segunda, adjacente, contém a circulação vertical e vestiários; uma terceira serve para armazenamento de água. Aqui, a arquiteta manteve a característica de seus projetos, privilegiando espaços de uso público, com elementos que estimulam o encontro, o respeito e o convívio, como o lago, a lareira e as lajes para estudos, presentes na Área de Convivência. Visitar o SESC-Pompéia e participar de seus eventos culturais e esportivos é, até hoje, uma das melhores opções de lazer na cidade de São Paulo. Nesse projeto, a mente criativa e inventiva de Lina pode se manifestar de várias formas, inclusive como designer de mobiliário, pois todos os móveis utilizados nos diversos espaços foram também desenhados por ela.


SESC-POMPÉIA. Imagens: reprodução da Internet.

“Entrando pela primeira vez na então abandonada Fábrica de Tambores da Pompeia, em 1976, o que me despertou curiosidade, (…) foram os galpões distribuídos racionalmente conforme os projetos ingleses do começo da industrialização europeia (…). Na segunda vez em que lá estive, num sábado, (…) (encontrei) um público alegre de crianças, mães, pais e anciãos passava de um pavilhão a outro. (…) É essa a atmosfera que quero manter aqui”, afirmou a arquiteta.

Outros trabalhos em arquitetura compreendem a Residência Valeria Piacentini Cirell e Renato Cirell Czerna (1957), também no Morumbi; a Igreja do Espírito Santo (1976), em Uberlândia; e o famoso Teatro Oficina (1958), também em São Paulo, que demonstra sua capacidade de integrar natureza e arquitetura, criando espaços de beleza única que inspiram e conectam as pessoas.


LINA E A ARTE POPULAR

"O Brasil, por exemplo o Nordeste, tem coisas maravilhosas de manualidades, todos os apetrechos, os instrumentos de trabalho dos pescadores do São Francisco são de um aprimoramento maravilhoso. Essa realidade é tão importante como a realidade da qual saiu Alvar Aalto ou as tradições japonesas... Não no sentido folclórico, mas no sentido estrutural. Antes de enfrentar o problema do industrial design em si mesmo, você tem que enquadrá-lo dentro de um contexto sócio-econômico-político, na estrutura do lugar, do país, nesse caso o Brasil." (Lina Bo Bardi)

“No vibrante ensejo da produção cultural brasileira, entre as décadas de 1950 e 1960, uma série de fatores possibilitaram uma estreita aproximação da produção artística com a cultura de raízes populares. Se de um lado havia a presença de governos de base progressista, empenhados em desenvolver ações voltadas para a demanda social, de outro houve uma classe intelectual e artística interessada em dar voz às classes menos favorecidas (Hollanda e Gonçalves, 1984). Trata-se de um momento singular em que profissionais das artes e da arquitetura buscaram sair de suas estritas esferas, posicionando-se politicamente ao rever a produção cultural e visando estreitar a relação com as camadas populares e marginalizadas para mudar a situação estabelecida.” (Paulo Arthur Silva Aleixo e Eline Maria Mora Pereira Caixeta)


Exatamente nesse contexto, a voz de Lina Bo Bardi era uma das mais atuantes na busca pelo resgate e valorização da arte popular brasileira. Pesquisou e estudou a fundo a cultura do país e as tradições populares, viajou por várias regiões e criou uma enorme coleção de objetos originados da produção manual tradicional. Não satisfeita em tomar pra si esse conhecimento, fez questão de difundi-lo, inclusive nos círculos mais eruditos e abastados. Ela realizou importantes eventos e exposições sobre artesanato e arte popular, buscando valorizar essas manifestações culturais e incorporá-las aos mais diversos projetos e ambientes do Brasil, independentemente de classes e padrões sociais estabelecidos.

“A Arte Popular, julgada Kitsch pela classe ‘culta’, nunca é Kitsch: mesmo em casos extremos, ela é perfeitamente reversível. O verdadeiro Kitsch não é do povo, é da burguesia e é irreversível”. (Lina Bo Bardi)

Considerando todo seu conhecimento a respeito da arte brasileira, em 1959, o então governador Juracy Magalhães convida Lina para implantar um Museu de Arte Moderna na Bahia, nomeando-a diretora. Neste mesmo ano ela propõe ao governo baiano a restauração e a revitalização do Solar do Unhão. Em novembro de 1963 ela entrega o Solar do Unhão à população baiana como um Museu de Arte Popular inaugurando duas exposições sobre o fazer popular brasileiro. Lina permaneceu em Salvador ente os anos de 1958 e 1964. Por ocasião do Golpe Militar foi demitida e regressou a São Paulo. Infelizmente, os anos de ditadura no Brasil cercearam completamente o trabalho de Lina ligado à produção popular. Os militares fecharam o Museu de Arte Popular, cancelaram todas as exposições de sua autoria e destruíram boa parte do acervo por ela garimpado com tanto suor. Em 1986, foi convidada a voltar à Bahia pela Prefeitura de Salvador e desenvolver um projeto de recuperação de seu centro histórico. Nessa mesma ocasião, realizou outros projetos para a cidade, tais como o Teatro e Fundação Gregório de Mattos, a Casa do Benin (no Pelourinho), a recuperação das encostas da ladeira da Misericórdia e a Casa do Olodum.


1. Vista do Solar do Unhão, após restauração; 2, 3 e 4. Exposição 'Artistas do Nordeste'; Escadaria do Solar do Unhão; 4. Lina Bo Bardi na véspera da inauguração da exposição 'Bahia' no Ibirapuera, em São Paulo. Foto Miroslaw Javurek. Imagens: reprodução da Internet.

Durante seus anos no Nordeste, Bardi realizou várias expedições exploratórias para conhecer cada vez mais os diversificados núcleos produtores de arte popular da região, com variadas técnicas, materiais, usos e tipos de utensílios, utilitários e decorativos. O resultado dessas excursões foi um enorme acervo de objetos bastante representativos da cultura popular brasileira e seu fazer manual.  A coleção contava com cerca de 2 mil objetos, incluindo carrancas, ex-votos, tecidos, roupas, móveis, ferramentas, utensílios, maquinários, instrumentos musicais, adornos, brinquedos, objetos religiosos, pinturas e esculturas. Essa extensa coleção foi a base a partir da qual Lina organizou e divulgou várias exposições com o intuito final de fomentar a expansão do conhecimento pela população brasileira sobre sua própria cultura e, ainda mais importante, quebrar paradigmas preconceituosos sobre a arte popular como arte menor, ajudando a criar uma nova cultura de valorização dos objetos populares como arte, e ponto. ‘Artistas do Nordeste’ e ‘Civilização do Nordeste’ foram as duas exposições apresentadas em 1963, na inauguração do Solar do Unhão, em Salvador.


A mostra “Fragmentos: artefatos populares, o olhar de Lina Bo Bardi”, realizada no Solar do Ferrão, em Salvador, em 2006, resgatou e expôs parte do acervo de arte popular reunido pela arquiteta durante sua vida inteira. Os objetos foram expostos pela primeira vez na mostra 'Bahia no Ibirapuera', em setembro de 1959, durante a 5ª Bienal Internacional de São Paulo. Imagens: reprodução da Internet.

A própria inauguração da nova sede do MASP, alguns anos mais tarde, contou com a exposição “A Mão do Povo Brasileiro” como sua mostra temporária inaugural, apresentando no coração da capital financeira do país um vasto panorama da rica cultura material do Brasil, com algumas centenas dos objetos oriundos do fazer manual popular tradicional do país e coletados pela arquiteta. O MASP, através de Lina, rompia com a rigidez dos museus tradicionais e dos conceitos do que era então considerado arte. “Ao valorizar uma produção frequentemente marginalizada pelo museu e pela história da arte, o MASP, conhecido por sua coleção de obras-primas europeias, realiza um gesto radical de descolonização. Descolonizar o museu significava repensá-lo a partir de uma perspectiva de baixo para cima, apresentando a arte como trabalho. Nesse sentido, tanto uma pintura de Candido Portinari quanto uma enxada são consideradas um trabalho — uma noção que supera as distinções entre arte, artefato e artesanato.”  (texto extraído do site MASP - https://masp.org.br/exposicoes/a-mao-do-povo-brasileiro-19692016)


Imagem da exposição "A Mão do Povo Brasileiro", recriada em 2016, no MASP. Imagem: reprodução da Internet.

COMO LINA BO BARDI INFLUENCIOU A FORMA COMO NÓS DECORAMOS NOSSOS ESPAÇOS NO BRASIL?

Cadeira Girafa (1986). Em parceria Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki.

Por meio de sua abordagem inovadora e humanista na arquitetura e no design, aliada à sua atuação de incentivo e valorização da cultura tradicional brasileira, Lina Bo Bardi acabou por exercer, de forma gradual, uma grande influência sobre os preceitos sob os quais arquitetos e decoradores passaram a olhar a possibilidade de introdução da produção da arte popular na decoração e ambientação de espaços diversos no Brasil, mesmo em ambientes mais refinados. O uso de objetos de origem artesanal, hoje tão comum e tão replicado nos nossos ambientes e visto corriqueiramente nas melhores mostras, projetos e eventos da arquitetura de interiores era, até então, impensável. Espaços residenciais e empresariais eram, até aquele momento, ornamentados apenas com objetos decorativos de estética clássica e de produção fabril e por obras pertencentes às ‘belas artes’. Lina Bo Bardi veio para romper com todas essas tradições e fazer uma nova ‘escola’ de decoradores.


Em suas obras, Lina deixa claro sua visão: arquitetura, paisagem e ambiente interior estão relacionados entre si e devem estar a serviço dos interesses do homem e contribuir para a manutenção de sua identidade e sua cultura, valorizando os saberes populares. Ela introduziu uma estética que ressalta a funcionalidade, a expressão cultural e a inclusão social, aspectos que se tornaram pilares importantes na forma como construímos e decoramos nossos ambientes, externos e internos. Um dos principais legados de Bo Bardi foi sua ênfase na adaptação dos espaços para atender às necessidades das pessoas e refletir suas identidades culturais.


Se, de um lado, Bardi conseguiu mexer com a arquitetura realizada até então, valorizando a incorporação dos saberes tradicionais da população às tecnologias e conceitos projetuais modernos, o que se comprova pelo uso de materiais de maior rusticidade, como o concreto ou tijolo aparentes, a madeira natural, elementos vazados e acabamentos menos refinados; de outro, sua experiência no design de mobiliário mostrava uma preocupação não apenas com a estética visual, mas também com a funcionalidade e o conforto dos espaços. Isso influenciou a maneira como encaramos a decoração, priorizando o equilíbrio entre beleza e praticidade.


Mobiliário desenhado por Lina Bo Bardi. Imagens: reprodução da Internet.

A Casa de Vidro, residência da arquiteta por 40 anos, é o modelo exemplar da visão de Lina sobre o decorar. Embora sua arquitetura seja absolutamente moderna, tanto no tocante ao projeto quanto aos materiais empregados, seus espaços internos eram recheados, em boa parte, pelo mobiliário de design simplificado de Lina e por objetos oriundos de seus garimpos de arte popular brasileira.


Imagens da decoração original da Casa de Vidro e parte do acervo exposto atualmente. Última imagem, Lina na Casa de Vidro. Imagens: reprodução da Internet.

Para além disso, Lina Bo Bardi foi capaz de introduzir uma estética que valorizava, ao mesmo tempo, a cultura local, a funcionalidade e a sustentabilidade, promovendo espaços inclusivos e expressivos, que refletiam as necessidades e as características das pessoas que os utilizavam, tanto do ponto de vista de suas histórias pessoais quanto do ponto de vista da identidade cultural de um povo como todo.


Sua vasta influência pode ser claramente vista em obras de vários arquitetos contemporâneos ou posteriores à sua época. Na arquitetura, projetos de Marcelo Ferraz, um de seus discípulos, como o Museu Cais do Sertão, no Recife, são exemplos claros de seu legado. Também em Recife, a arquiteta Janete Costa apresentou uma vasta produção e atuação ligada à valorização de obras artesanais. Os projetos como arquiteto e designer de Paulo Alves, que também trabalhou com Lina em São Paulo, são profundamente afetados, segundo ele próprio, pelas visões aprendidas com a arquiteta.



Imagens: reprodução da Internet.

De forma prática, vemos então que a partir das defesas de suas crenças, Lina Bo Bardi foi capaz de efetivamente criar uma mudança no pensamento tradicional sobre a decoração dos espaços brasileiros. A partir dela, felizmente, passamos a ver, cada vez mais, projetos de interiores que incluíam peças oriundas do fazer artesanal popular, com objetos e materiais rudimentares, como fibras rústicas, barro, madeira, pedras, couro e outros, e produzidos a partir de técnicas tradicionais e manuais. Até hoje essa prática é amplamente aplicada pelos arquitetos, designers e decoradores e cada vez mais aceita e desejada pelo público brasileiro.


LEGADO VIVO


A ampla herança de Lina Bo Bardi para o Brasil está presente não só em suas obras arquitetônicas, que são reconhecidas internacionalmente por seu vanguardismo e originalidade, mas também por seus conceitos humanistas e democráticos. Preocupada em aliar os avanços tecnológicas modernos e o conhecimento vernacular ela cria uma nova forma de construir, onde as inovações progressistas ficavam à serviço dos hábitos, materiais, soluções e técnicas construtivas e criativas tradicionais.

 “No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Alguma coisa que nada tem a ver com arte, uma espécie de aliança entre dever e prática científica.” (Lina Bo Bardi)

Porém, o seu importante legado vai além da arquitetura apenas. Seu compromisso com a valorização e defesa do fazer popular e a diversidade cultural contribuíram para o fortalecimento da identidade brasileira por meio de seus espaços. Sua visão inovadora e sua atuação como pesquisadora e curadora da arte popular permitiram que a decoração brasileira se tornasse mais rica, autêntica e representativa. A obra de Lina Bo Bardi nos mostra a importância de valorizar as raízes culturais de um país e como isso pode enriquecer a experiência estética e artística de um povo. 


A arquiteta faleceu em São Paulo, no dia 20 de março de 1992, com 77 anos, tendo se tornado referência mundial pela sua trajetória e conjunto excepcional de sua obra.


A arquitetura de Lina Bo Bardi é surpreendente pela multiplicidade com que se manifesta, se constituindo num procedimento fértil dentro de um campo profissional devido a elaboração de soluções em diferentes escalas e linguagens[...] propõe soluções arrojadas e incorpora soluções vernaculares; organiza e participa de movimentos culturais, estabelece assim, o código poético de sua arquitetura. (Rossetti, 2002)

EU SOU FÃ DE CARTEIRINHA DE LINA BO BARDI! MUITO ME INSPIROU EM TODA MINHA TRAGETÓRIA COMO ARQUITETA E AQUI, NA NOSSA BALAIO.


E VOCÊS, SE APAIXONARAM TAMBÉM? CONTEM PRA MIM!

Um beijo e até o próximo texto! Flávia Bayma



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